segunda-feira, 11 de agosto de 2008

O Cartório da vida

.
Escravo-calado, subordinado-quieto, empregado-silencioso. E se não chamasse criado-mudo?

Imagino como seria as coisas há muito tempo. Talvez os objetos não fossem tão humilhados assim.
Quando não se tinha esses nomes, talvez quando se pedisse um carregador, seria um cesto de frutas. Mas enfim, quem é que dá nome aos "bois"? Existe alguém responsável para intitular objetos?

-Aldair, cadê meu carregador? Vou contar até três...
-Toma.
-Do celular imbecíl!

Gira o globo dos nomes. Apreensão no ar, todos esperam com olhos vidrados mais um batizado. Dessa vez o objeto escolhido a Deus dará para ser intitulado é uma mesinha que fica ao lado da cama. E vem os nomes... A moça que gira o globo num sorriso falso de modelo é assistida pela sua família que toda orgulhosa está no sofá da casa da vizinha se gabando em algum interior (-Minha filhota é linda!)

Eis que algo acontece, 3 bolinhas com os benditos nomes se engafiam e ficam presas. Criado, Mudo e Péricles. "E agora?" perguntam os telespectadores. A bolsa despenca, Imediatamente se criam comunidades do orkut; Eu me chamo Péricles (orgulhosos, não sei com o quê) logo os mudos reividicam alvorecidos num ensurdecedor silêncio.

Derrepente para a surpresa de todos "Péricles" se solta, e o globo é girado mais uma vez.
TEMOS UM NOME. Grita o narrador. Mudo-criado...
Silêncio na platéia, logo o diretor do programa grita no seu ponto-eletrônico: "Pô desfaz, desfaz... Fala criado-mudo".

Em breve teremos cursos superiores, pós, mestrados em Ciência dos Nomes. Talvez aí sim, poderíamos dormir tranquilos ao lado de uma criada-gostosa.